Archive for Outubro, 2009

António Granado – “o painel da dura realidade da comunicação social”

António Granado, Jornalista, editor do publico.pt, professor de Jornalismo na Universidade Nova de Lisboa, falou-nos do “Jornalismo móvel: entre o sonho e a realidade” integrado no painel Meios de Comunicação – “o painel da dura realidade da comunicação social” como ele o renomeou.

Começou por fazer um estado da arte através da apresentação de uma série de gráficos retirados do relatório da WAN 8.4 – Winning Mobile Strategies, comprovativos das taxas de crescimento no uso do telemóvel para recepção de dados nos últimos anos. Em 2001, a Europa registava 60% de utilização de telemóvel unicamente para serviços de voz. Em comparação, em 2006, o uso exclusivo do telemóvel para serviços de voz passou a ser de 20%. O mesmo relatório apresenta uma projecção dos próximos quatro anos para os EUA segundo o qual a taxa de crescimento em gastos em publicidade móvel chegará a atingir os 69,9% no ano de 2012, e os 3330 Milhões de Dólares em 2013.Ficou assim claro para todos que o uso do telemóvel se alterou nos últimos anos. O telemóvel é já, actualmente, um interface de acesso a informação.

Apesar da clara evidência do poder do meio, da adesão dos utilizadores e da sua viabilidade económica, o autor não escondeu o desânimo por nada disto constituir a realidade do Público. Um ano volvido sobre a abertura da versão para iPhone, este meio representa já 0,6% dos leitores. No entanto, não existe efectivamente um investimento do jornal neste novo meio de comunicação.

Nos últimos anos, o Público tem apostado essencialmente em serviços de “sms” e “mms” para a Vodafone e a Optimus, sob forma de alertas.

Uma das primeiras tentativas do Público para desenvolver um jornalismo móvel foi a difusão de notícias através de pacotes de informação disponibilizados pelas operadoras de telecomunicações. São exemplo “o público móvel”, “os jogos da sorte” e “a revista de imprensa”, todos disponibilizados pela Optimus.

Outra experiência aconteceu em 2007 com o lançamento do site para telemóvel – móvel.publico.pt. Um site muito simples, sem recurso a qualquer elemento multimédia, no qual as notícias são apresentadas apenas sob forma de texto, tornando-o mais leve e, consequentemente, mais económico.

Desde de Outubro de 2008 passou a disponibilizar o i.pubico.pt para a plataforma iPhone. Apesar dos gráficos apresentados ilustrarem o franco crescimento do número de leitores através dos dois portais móveis, a produção de conteúdos do Público para este meio é “Zero”. As notícias da página Web são utilizadas directamente para as plataformas móveis.

O autor afirmou não haver jornalismo móvel no Público por falta de investimento e de visão do que pode ser o futuro das comunicações móveis. Sem conteúdos não há venda de pacotes de dados. A falta de recursos humanos no desenvolvimento de conteúdos para a plataforma móvel é outro dos problemas apontados pelo Professor António Granado.
Cláudio Ferreira

Vista geral das conferências

O Sapo e a multiplataforma


O Engenheiro Benjamin Júnior, Licenciado em Electrónica e Mestre em Electrónica e Telecomunicações pela Universidade de Aveiro, foi um dos co-fundadores do Sapo e actualmente dirige a área de Multiplataformas deste portal. Veio a estes Encontros apresentar os projectos que o Sapo está a desenvolver para as comunicações móveis, que se inserem no âmbito das multiplataformas.

A abordagem do Sapo às comunicações móveis está naturalmente associada ao longo historial deste bem sucedido portal Web, cujo nome está indelevelmente inscrito na história da Internet em Portugal. Benjamin Júnior começou precisamente por destacar as características particulares do Sapo e o seu posicionamento no universo Web. O Sapo funciona como um conjunto de serviços, na forma de um Portal, que passa por ser sobretudo um hub de conteúdos. Desde a sua génese que o Sapo procurou parcerias com produtores de conteúdos, garantindo-lhes as necessárias audiências. O Sapo é actualmente um dos portais mais procurados pelos portugueses e conta com mais de um milhão de visitas diárias. Uma das principais áreas de negócios do Sapo são também os chamados User Generated Contents, ou seja, conteúdos gerados pelos próprios utilizadores e que habitualmente consistem em vídeos, fotos ou blogues. O Portal Sapo compete aqui directamente com gigantes como o Youtube ou o próprio Blogspot. Por fim, o Sapo investiu grandes esforços na criação do Sapo Local, que congrega a informação de 400 fontes locais, entre jornais, revistas, rádios e diversas associações.

Uma das preocupações sempre presentes na estratégia do Sapo é o conceito de Georeferência. Ou seja, o portal funcionaria como um pipeline de conteúdos, tanto de parceiros como de utilizadores, especialmente direccionado para os usuários de uma determinada região.

Foi á luz dos resultados já obtidos na Web que o Sapo pensou a sua estratégia para o Mobile. Ou seja, enquanto depositário e difusor de conteúdos, caberia ao Sapo adequar estes mesmos conteúdos a um novo meio, neste caso os dispositivos móveis. Segundo Benjamin Júnior, a aposta do Sapo é precisamente na “apresentação de conteúdos de outra forma”. Tendo em conta a vasta experiência do Portal no universo Web, o Sapomobile apostou em particular nos browsers, baseando-se na linguagem universal e no interface rico que algumas marcas têm desenvolvido, principalmente o iphone. A adequação dos conteúdos a este novo dispositivo envolve algum esforço, na medida em que é necessário mudar a embalagem e despojar o conteúdo de tudo o que não funcione no novo suporte.

Benjamin Júnior apresentou números que ilustram o sucesso deste serviço, que desde a sua génese, em 2007, não parou ainda de crescer. O Sapomobile conta agora com cerca de quinhentas mil visitas semanais. A maior parte dos utilizadores procuram sobretudo notícias, onde se incluem também o desporto e o entretenimento, mas também utilidades, como a listagem de farmácias de serviço ou os relatórios de trânsito.

Em suma, a posição do Portal Sapo perante as comunicações móveis assenta no conceito de Multiplataformas, adaptando os conteúdos para os mais diversos suportes, seja a Web, as comunicações móveis ou a própria IPTV. Benjamin Júnior concluiu dizendo que em tecnologia a imprevisibilidade é uma constante, dando como exemplo o IPTV, onde se esperam grandes evoluções.

Francisco Merino

Mobile Blog do Encontro da Montanha

O Expresso Online está a acompanhar o 1º Encontro da Montanha em ‘Mobile blogging’

no seguinte endereço:

Marco Oliveira (LabCom) – “Notícias para dispositivos móveis”


O sexto interveniente, Marco Oliveira, da LabCom trouxe-nos um paper sobre “Notícias para dispositivos móveis: Aplicações web e nativas”.

Na sua abordagem ao tema, destaca-se a apresentação de uma sinergia entre a informação e a tecnologia.

A palestra foi apresentada em três parâmetros: Motivação, Problemas e Aplicações.

No quadro da motivação, foi reforçada a ideia, de que deve haver uma forte adaptação da portabilidade Web com a mobilidade que os dispositivos moveis apresentam, diminuindo assim o custo do download através da computação nativa.

No quadro dos problemas, Marco Oliveira destaca que a aplicação da tecnologia Desktop para dispositivos moveis poderá ser condicionada pela dimensão dos mesmos.

Tirar partido de factores como GPS, banda larga e plataformas de conteúdos multimédia, tais como, o vídeo, o som e a fotografia tornam-se numa obrigação, afim de melhorar a informação para o utilizador.

Marco Oliveira afirma ainda que os telemóveis “mudaram a vida das pessoas no panorama da navegação Web”, dando como exemplo uma subida de 25% de novos utilizadores desta realidade, nos E.U.A.

A funcionalidade das aplicações desktop e mobile obedecem aos mesmos parâmetros em termos de funcionalidade e organização, tais como a estrutura e formatos, sendo o caso do arquivo uma excepção.

No caso de web mobile e aplicações nativas, é de destacar algumas diferenças, tais como a instalação da aplicação no próprio dispositivo (aplicações nativas), melhorando o desempenho do equipamento.

Como conclusão, Marco Oliveira afirma que a interacção com a notícia deve ser feita de forma diferenciada para os conteúdos moveis, sendo a adaptação contextual uma prioridade.

Também se pretende uma maior exploração das capacidades dos dispositivos móveis e uma sensibilização dos profissionais de informação afim de adaptarem os seus conteúdos a esta nova realidade.

Interrogado sobre projectos de futuro, o orador referiu a criação de um sistema de notificação e distribuição de noticias semelhante ao SMS, assim como novas plataformas de comunicação nativa, tais como a introdução do modo “falar” e do resumo automático de informação.
Ruben Almeida

Anexos :

http://www.labcom.pt/ficheiros/n4md-encontros-labcom-2009.pdf

Painel “Aplicações Informáticas”

“Construção de mobile web sites universais”


Em declarações ao Jornal Urbi et Orbi, João Canavilhas, docente e investigador da Universidade da Beira Interior, quando se refere ao jornalismo destinado a dispositivos móveis, declara o advento de uma nova forma de jornalismo que “se assemelha ao webjornalismo, mas com algumas particularidades que devem ser estudadas”.

A abrir o painel sobre “Aplicações Informáticas”, António Gil, da Dom Digital, direcciona a sua intervenção, precisamente, para a particularidade da produção de conteúdos considerando a existência de cerca de 5.000 dispositivos móveis diferentes. Na sua intervenção, António Gil, destaca a pretensão de automatismo e universalidade.

O director geral da Dom Digital iniciou a sua participação evidenciando a ideia da actual facilidade de produção de conteúdos considerando as ferramentas e tecnologias de que dispomos. Porém, difícil é a sua adaptação à “panóplia de dispositivos móveis existente”, considerando as variáveis com as quais é necessário lidar e atendendo à preocupação de reprodução com o máximo de qualidade possível.

Através de um gráfico de oportunidades, demonstra a existência de um mercado a explorar pelo jornalismo, sustentado em números que retratam o consumo actual destes dispositivos, dando como exemplo os modelos iPhone e iTouch. Refere que “um terço do uso dos dispositivos móveis é destinado a Mobile Midia” consumido por 4 em 10 utilizadores. Informou ainda que a principal utilização do Mobile Browsing está associada ao consumo de notícias, independentemente do seu género.

Porém, “a confusão tecnológica móvel”, como refere, é enorme. Há que considerar as diversas plataformas, os diferentes browsers disponíveis, a diversidade no que diz respeito aos acessos utilizados, as propriedades do ecrãs e por fim a variedade de linguagens áudio e vídeo, bem como os respectivos codecs, o que veio estipular em cerca de 5000, as hipóteses distintas de dispositivos móveis a considerar aquando da produção de conteúdos .

Actualmente, o mercado essencialmente norte-americano, disponibiliza algumas soluções que permitem a formatação e optimização automática desses mesmos conteúdos considerando a variedade de dispositivos receptores.

A Dom Digital, com o desenvolvimento do “Alfaiate” também contribui nesse sentido. O Alfaiate permite a optimização considerando um processo dividido em 4 fases: recolha de dados, optimização, publicação e adição de valor.

A título de conclusão, António Gil reforça a existência de uma oportunidade a explorar no que se refere ao jornalismo. O objectivo será atingir uma diversidade de sistemas móveis explorando as tecnologias disponíveis. O sonho a alcançar será o de “o jornalista produzir a sua notícia, uma única vez e reproduzi-la com qualidade nos vários sistemas móveis existentes no mercado”, procurando atingir o maior número de leitores possível.
Bruno Rego

Conteúdos jornalísticos para smartphones: estudo de aplicação para iPhone

As aplicações para iPhone serviram de estudo a João Canavilhas, docente e investigador da Universidade da Beira Interior.

O trabalho intitulado “Conteúdos jornalísticos para smartphones: estudo de aplicação para iPhone”, avaliou os produtos jornalísticos especificamente criadas pelos meios de comunicação já estabelecidos na Internet, mas especificamente para o telefone da Apple.

Este telefone concentra muitas das características inovadores dos vários smartphones e marcou uma era no mercado do sector. De acordo com o números apresentados pelo investigador, são mais de 50 milhões o aparelhos vendidos, onde podem correr as cerca de 70 mil aplicações disponíveis na loja de apoio do smartphone, a iTunes Store. Em termos técnicos, o iPhone representa um plano evoluído de capacidade multimédia e inovação, surgindo, ainda, com um design inovador, uma aposta da marca que o promove. Todos estes factores têm dinamizado empresas concorrentes da Apple a seguir o mesmo padrão, tornando-o em si mesmo um modelo de negócio.

O estudo avaliou 49 aplicações nativas de 14 países (29 de imprensa, 17 de televisão e seis de rádio) 19 dos Estados Unidos da América, cinco de França, quatro de Espanha e Grã Bretanha). Interessou perceber o Design das aplicações e campos de informação e características das notícias (semelhança na web).

Em termos de conclusões, as aplicações para o iPhone diferem do que é habitual ver na Internet, onde os portais que têm origem nos meios tradicionais – imprensa, rádio e televisão – têm uma configuração semelhante .“Nas aplicações para iPhone há um certo grau de divergência”, segundo os resultados do estudo.

Outra conclusão aponta para o facto do jornalismo que se faz para correr no iPhone não apresenta os mesmos índices do webjornalismo. Para o docente da UBI, uma justificação possível aponta para as dimensões reduzidas do ecrã, que não favorecem a usabilidade com links.

Por último, a “Mobilidade dos utilizadores não é bem explorada”. Ou seja, a localização geográfica do utilizador não tem servido para a produção de conteúdos específicos aos locais onde se encontra o mesmo. Para João Canavilhas, este “é um ponto onde os meios podem incentivar os utilizadores a pagarem este tipo de conteúdos”.
Rodolfo Silva

“Ainda não estão a ser desenvolvidos conteúdos para telemóveis”


“Llamada en espera: Periodistas inmóviles ante el periodismo móvil” foi o tema da comunicação apresentada por Josep Micó, professor na Universitat Ramón LLul (Espanha) e membro do Digilab – Laboratori de Periodisme Digital de Catalunya.

O professor espanhol partiu do trabalho realizado no âmbito de uma investigação que teve como principal objectivo averiguar que meios de comunicação da Catalunha estão a desenvolver conteúdos específicos para dispositivos móveis. Como indicia o próprio título da comunicação apresentada, as conclusões não são optimistas. Segundo o investigador, o panorama não é animador” porque “na Catalunha não se está a fazer nada nesta área”.

Para Josep Micó está claro que “ainda não estão a ser desenvolvidos conteúdos para telemóveis”. Aludindo à realidade dos media da Catalunha o investigador diz que estes estão parados num “semáforo vermelho, à espera, sem saber bem o que fazer”. Mas também os utilizadores estão numa situação semelhante.
O “jornalismo cidadão” foi um tema que esteve em cima da mesa. Com base nos resultados obtidos na investigação realizada, Josep Micó afirma que “os cidadãos não são jornalistas porque para isso é necessária uma série de requisitos e competências que o cidadão comum não tem. O que existe nos meios de comunicação da Catalunha (e de um modo geral, em Espanha) são mecanismos de marketing que servem para fidelizar a audiência”. Micó destaca contudo a importância dos media estarem presentes em redes sociais, por exemplo, considerado que não devem prescindir dessa oportunidade.

Quando começavam a vislumbrar-se alguns movimentos de esperança e algumas tentativas de inovação nesta área, “a crise obrigou as empresas a parar projectos”, conclui.

Catarina Rodrigues

Carlos Scolari – UVic

Carlos Scolari, professor e investigador da Universidade Vic, apresentou uma conferência sobre o tema “mComunicación: el surgimiento del ‘new new media’ en el ecosistema mediático”. Tendo como ponto de partida o conceito “Ecologia dos Meios”, Scolari relembra que a questão surge nos anos 70 com McLuhan e Postman. Os meios de comunicação começaram então a ser vistos de forma integral, numa convergência epistemológica dos mesmos: deixa então de ser possível analisar, isoladamente, os efeitos de um meio, citando como exemplo a dificuldade contemporânea de analisar a televisão sem falar de vídeo-jogos.
Na rapidez de surgimento dos novos meios, Scolari afirma que, apesar de ainda nos encontrarmos a estudar os efeitos da Internet, surge agora um novo meio de comunicação e informação: o telemóvel. Tal como na ecologia, cada entrada de um novo meio gera novos acomodamentos em todos os restantes meios, o que pode mesmo levar à extinção de alguns. No mapa das novas relações e adaptações, Scolari alerta para a necessidade de repensar e readaptar os novos formatos aos outros meios. Como aconteceu nos anos 90, quando a Internet foi buscar grande parte dos seus conteúdos à imprensa, é importante definir em que formatos se deve basear a informação para telemóvel: áudio, vídeo ou simples informação escrita, em conteúdos sintéticos de rápido consumo.
Numericamente, Scolari sublinha que o volume de possível negócio neste novo meio de comunicação é gigantesco: em todo o mundo circulam 4.900 milhões de telemóveis, sendo que destes 600 milhões têm acesso regular à Internet. Como exemplo concreto, Scolari cita ainda o número de empresas que, em Barcelona, se dedicam ao novo meio. Tratando-se ainda de um mercado pequeno, a grande maioria das produções é adaptada dos meios anteriormente criados. Deverá assim surgir uma nova gramática da imagem? Sendo este o primeiro meio de comunicação pessoal, que não partilhamos com outros utilizadores, deverão as empresas de conteúdos estar atentos a este novo mercado, nomeadamente a novos nichos ainda não explorados, como o sector da educação? O professor e investigador defende que sim.
Ana Catarina Pereira