Dan Gillmor deposita grande fé na tecnologia da comunicação e nos seus avanços, apontando-a como grande força motriz do jornalismo cidadão. A este propósito, não resisto a uma breve comparação entre o cartoon do Inspector Gadget e a figura hoje em dia preconizada de uma espécie de “Jornalista Gadget”.

Recordemos que o Inspector tinha um conjunto de engenhocas diversas que o ajudavam a desempenhar o seu trabalho policial. Nas situações mais tensas, usava-as para apanhar os criminosos, mas era quase sempre um desastrado e os seus esforços acabavam em situações cómicas em que alguém, vulgarmente a sobrinha Penny, lhe salvava a pele ou fazia metade do trabalho por ele. E para que serve este exemplo tolo? Justamente para mostrar que a tecnologia não é tudo. O jornalista pode ter um smartphone apetrechado de ferramentas de localização, captação vídeo e áudio e ligação rápida à internet para partilha de informação. No entanto, ainda não inventaram aplicações nem gadgets para faro jornalístico, sentido de oportunidade, capacidade de relacionar e contextualizar factos e sensibilidade para saber lidar com fontes. Tudo isto para dizer que a tecnologia é um add-on, é algo exterior que facilita e exponencializa as capacidades que o jornalista já tem. Com o Inspector, tudo estava integrado no seu corpo. Se assim fosse com o jornalista, tudo era mais fácil.

Há duas conclusões importantes a retirar da comparação feita anteriormente: a primeira é a de que, sem desvirtuar minimamente as potencialidades das TIC’s para o jornalismo, não esqueçamos que elas não são tudo e não vão resolver magicamente a crise económica e de credibilidade que o jornalismo atravessa; a segunda é a de que, evidentemente, por tudo o que já foi dito, o jornalista cidadão com um smartphone não é automaticamente habilitado a fazer jornalismo. Pode (e deve) é agregar informações recolhidas no seu blog ou na sua página de rede social e, se assim o entender, facultar essa informação aos jornalistas profissionais como fonte suplementar.