O “conhecimento sobre” e o “estar familiarizado com” são dois tipos de conhecimentos distintos. O jornalismo encontra-se no meio dos dois. Ou melhor, é entre esses dois tipos de saber que se situam as notícias como forma de conhecimento. Mas para que se perceba melhor do que se fala, interessa destacar as características, quer de um, quer de outro. Se o “conhecimento sobre” é um conhecimento mais formal, mais científico, a ideia de “estar familiarizado com” situa-se ao nível do senso comum, ao nível de um conhecimento que se adquire no contacto com o mundo, que resulta do hábito e do uso.

Além do que atrás já é referido, e que o cidadão comum não tem em atenção quando pensa estar a tomar a posição de um jornalista, importa destacar que este mesmo cidadão não tem qualificação específica para tal. Segundo Sylvia Moretzsohn, no jornalismo participativo (ou jornalismo cidadão) publica-se primeiro, e só depois se faz a filtragem, quando no jornalismo tradicional acontece (ou deve acontecer), precisamente, o oposto. A juntar a isso, a autora dá conta que o tipo de participação de todos, isto é, de jornalismo de todos para todos, poderá, de alguma forma, funcionar, mas em meros casos de nichos específicos, em que as fontes são simultaneamente consumidores. Sylvia Moretzsohn afirma que “o jornalista é aquele profissional autorizado a estar onde o público não pode estar, e por isso tem direito ao acesso a fontes através das quais pode apurar as informações necessárias à sociedade”.

O mito parece desfeito. Não existe jornalismo cidadão, ainda que autores como Gillmor, defensores de um jornalismo feito por cidadãos comuns, considerem que o jornalismo entendido como profissão, se encontra numa fase de mudança e que, face às novas tecnologias, os cidadãos já não devem ser tidos em conta como meros consumidores, mas como fontes e mediadores de informação. Mas mais importante parece ser a ideia de que nem todo o cidadão que dá informação pode ser considerado jornalista. “Julgar que as novas tecnologias permitem a qualquer um tornar-se um jornalista sem grandes custos constitui tanto um exagero do papel da tecnologia na comunicação como um equívoco grave da especificidade cognitiva e social do jornalismo”.

(A partir do texto “Especificidade epistemológica do Jornalismo”, de António Fidalgo)