Já anteriormente se falou aqui de um jornalismo praticado pelo cidadão comum, de um jornalismo do cidadão. Mas parece-me pertinente levantar algumas questões e perceber, até que ponto, se pode falar neste modo de se fazer informação.
Não parecem existir dúvidas de que a Internet veio alterar toda uma forma de se fazer imprensa. Passando do jornal para o webjornal, o cidadão começou a poder contar com espaços dedicados, exclusivamente, à sua participação. Assim que uma notícia é publicada, na grande maioria dos jornais online, é possível comentar e dar a sua opinião a conhecer sobre os factos noticiados. Antes de assim ser, num jornal impresso, o cidadão teria que esperar, até a uma próxima edição do mesmo, para que visse – se visse – o seu comentário publicado, após enviar uma carta para a redacção, fazendo-se socorrer à Lei da Imprensa, ao Direito de Resposta ou às Cartas do Leitor. Tudo isso muda com o webjornalismo e segundo o professor João Canavilhas, “a máxima ‘nós escrevemos, vocês lêem’pertence ao passado”.
Tendo por base a anterior afirmação, a mudança dos tempos e do próprio jornalismo (com a “transição” da imprensa para o online), poderá dizer-se que o cidadão comum, para além de ler e debater a informação, também pode intervir no processo de recolha, selecção e difusão de informação? Há quem diga que sim, e que ainda lhe atribua o nome de “jornalismo do cidadão”. Não o consigo ver senão como um verdadeiro atentado, não só às regras, como à própria ética do jornalismo. Ainda assim, os defensores deste tipo de jornalismo definem-no como a produção de qualquer conteúdo, por qualquer cidadão e divulgado, sobretudo, através de novas tecnologias (como telemóveis ou PDA’s). Saberá o cidadão comum que existe um código deontológico que rege a profissão do jornalista? Será que o cidadão comum tem noção das normas do jornalismo? Responsabilidade, contrato social, exigência e regularidade são alguns dos conceitos base que permitem estabelecer uma distinção entre jornalismo profissional e o “jornalismo” do cidadão.
Segundo o professor João Canavilhas, “da mesma maneira que não há medicina do cidadão, arquitectura do cidadão, também não há jornalismo do cidadão. Isso é o bairro de lata do jornalismo, o sítio onde as pessoas que não estão preparadas para desempenhar uma determinada função, o fazem”. O que diz existir, e ser uma mais-valia para a informação é a participação do cidadão. “É sempre bem-vindo o comentário da audiência, quando essa audiência tem uma participação que é uma mais-valia para a notícia”. Mas “não há jornalismo do cidadão”, conclui.