Voltámos à mesma história.

O Homem como ser de hábitos que é, tende a cometer os mesmos erros e a acreditar sempre em falsos pressupostos, foi assim sempre porque mudaria agora? Não se afirmou em outros tempos que a Terra era plana? Ou que o Homem foi o primeiro ser a pisar este mundo? Porque haveria de mudar agora?

O meu raciocínio é este: Quando apareceu a rádio disseram que seria a morte da imprensa, depois veio a televisão que vinha para suprimir a rádio, vamos agora acreditar que serão as redes sociais, tablets, telemóveis, ou todos os outros gadgets que ditarão o fim à profissão de jornalista? Não me parece.

Dan Gillmor fala numa crescente afirmação do jornalismo cidadão, aquilo que será o futuro desta profissão. Feito pelo cidadão comum para um próximo, fazendo uso das novas tecnologias para que se deixe a passividade aquando na receção de informação e se passe ao ativo, espalhando notícias, comentários e gerando discussões. Então mas se assim for, o que me impede de publicar, seja num blogue ou rede social, aquilo que eu entender? O jornalista pode não saber tudo o que está a acontecer, mas rege-se por regras que o ajudam a filtrar aquilo que é realmente informação e aquilo que não o é. Sylvia Moretzsohn afirma exatamente isto para contrapor Gillmor, desacreditando o jornalismo cidadão pelo simples facto de carecer de regras como é a falta de um código deontológico, que “significaria abrir o campo a todo o tipo de boatos e de informações ?plantadas?, com as nefastas consequências que todos conhecemos”.

Poderão certamente existir vantagens na interação entre jornalistas e cidadão comum é verdade, mas daí a neutralizar o papel do profissional na filtragem da informação ou esquecer o valor que uma investigação jornalística tem ao lado de um poste de blogue, é inaceitável. Dan Gillmor disse “os jornalistas têm de abandonar a posição arrogante de que são eles os que sabem, os que têm competência para decidir o que é e não é notícia(…)”. O que me parece arrogante é afirmar algo assim.

(A partir do texto “Especificidade epistemológica do Jornalismo”, de António Fidalgo)